terça-feira, 10 de maio de 2011


Perdi os Meus 
Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos 
Como névoa distante que se esfuma... 
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los: 
Quebrei as minhas lanças uma a uma! 

Perdi minhas galeras entre os gelos 
Que se afundaram sobre um mar de bruma... 
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? – 
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma! 

Perdi a minha taça, o meu anel, 
A minha cota de aço, o meu corcel, 
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias... 

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas... 
Sobre o meu coração pesam montanhas... 
Olho assombrada as minhas mãos vazias... 

Florbela Espanca


Soneto do Amor Total


Amo-te tanto, meu amor ... não cante
O humano coração com mais verdade ...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.


 Vinicius de Moraes