quarta-feira, 17 de agosto de 2011


Vertentes

As palavras esperam o sono 
e a música do sangue sobre as pedras corre 
a primeira treva surge 
o primeiro não a primeira quebra 

A terra em teus braços é grande 
o teu centro desenvolve-se como um ouvido 
a noite cresce uma estrela vive 
uma respiração na sombra o calor das árvores 

Há um olhar que entra pelas paredes da terra 
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra 
começo a entender o silêncio sem tempo 
a torre extática que se alarga 

A plenitude animal é o interior de uma boca 
um grande orvalho puro como um olhar 

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio 
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa 
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo 
sou a sombra que conhece a luz que a submerge 

A luz que sobe entre 
as gargantas agrestes 
deste cair na treva 
abre as vertentes onde 
a água cai sem tempo 

António Ramos Rosa