quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Venturosa de sonhar-te

Venturosa de sonhar-te, 
à minha sombra me deito. 
(Teu rosto, por toda parte, 
mas, amor, só no meu peito!)

–Barqueiro, que céu tão leve! 
Barqueiro, que mar parado! 
Barqueiro, que enigma breve, 
o sonho de ter amado!

Em barca de nuvem sigo: 
e o que vou pagando ao vento 
para levar-te comigo 
é suspiro e pensamento.

–Barqueiro, que doce instante! 
Barqueiro, que instante imenso, 
não do amado nem do amante: 
mas de amar o amor que penso!

Cecília Meireles