sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Depois de Te Haver Criado, 
a Natureza Pasmou

A mãe, que em berço dourado 
Pôs teu corpo cristalino, 
É superior ao Destino, 
Depois de te haver criado. 
Quando Amor, o Nume alado, 
Tua infância acalentou, 
Quando os teus dias fadou, 
Minha Lília, minha amada, 
A mãe ficou encantada, 
A Natureza pasmou. 

Deve dar breve cuidado, 
Motivar grande atenção, 
A um Deus a criação, 
Depois de te haver criado. 
Deve de ser refinado 
O engenho que ele mostrar 
Desde o ponto em que criar; 
Cuide nisto a omnipotência, 
Porque, ao ver a sua essência, 
A Natureza pasmou. 

Ao mesmo Céu não é dado 
(Bem que tanto poder goza) 
Criar coisa tão formosa 
Depois de te haver criado. 
Naquele instante dourado, 
Em que teus dotes formou, 
Apenas os completou, 
Arengando-lhe o Destino, 
Em um êxtase divino 
A Natureza pasmou. 

O Céu nos tem outorgado 
Quanto outorgar-nos podia; 
O Céu que mais nos daria 
Depois de te haver criado? 
Ninfa, das Graças traslado, 
Ninfa, de que escravo sou, 
Jove em ti se enfeitiçou, 
Cheio de espanto e de gosto, 
E absorta no teu composto 
A Natureza pasmou. 

O teu rosto é adornado 
Dos prodígios da beleza; 
Foi um deus a Natureza 
Depois de te haver criado. 
Pôs em teu rosto adoçado 
O que nunca o Céu formou; 
Ela a Jove envergonhou 
Nesse deleitoso espanto, 
E de ter subido a tanto 
A Natureza pasmou. 

Todo o concílio sagrado 
Do almo Olimpo brilhador, 
Subiu a grau superior 
Depois de te haver criado. 
Da meiga Vénus ao lado 
O teu ente a nós baixou, 
Ente que Jove apurou, 
Ente de todos diverso; 
Assombrou-se o Universo, 
A Natureza pasmou. 

Bocage