domingo, 19 de setembro de 2010


Para o Meu Coração...

Para o meu coração basta o teu peito, 
para a tua liberdade as minhas asas. 
Da minha boca chegará até ao céu 
o que dormia sobre a tua alma. 

És em ti a ilusão de cada dia. 
Como o orvalho tu chegas às corolas. 
Minas o horizonte com a tua ausência. 
Eternamente em fuga como a onda. 

Eu disse que no vento ias cantando 
como os pinheiros e como os mastros. 
Como eles tu és alta e taciturna. 
E ficas logo triste, como uma viagem. 

Acolhedora como um velho caminho. 
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas. 
Eu acordei e às vezes emigram e fogem 
pássaros que dormiam na tua alma. 

Pablo Neruda

Intimidade

Que ninguém hoje me diga nada. 
Que ninguém venha abrir a minha mágoa, 
esta dor sem nome 
que eu desconheço donde vem 
e o que me diz. 
É mágoa. 
Talvez seja um começo de amor. 
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao 
[mundo. 
Pode ser tudo isso, ou nada disso. 
Mas não o afirmo. 
As palavras viriam revelar-me tudo. 
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê. 

Fernando Namora