quarta-feira, 14 de setembro de 2011



“Há quem diga que todas as noites são de sonhos...
Mas há também quem diga que nem todas...
Só as de verão...
Mas no fundo isso não tem muita importância...
O que interessa mesmo não são as noites em si...
Mas sim os sonhos...
Sonhos que o homem sonha sempre...
Em todos os lugares, em todas as épocas do ano...
Dormindo ou acordado...”

William Shakespeare

segunda-feira, 12 de setembro de 2011



Teu corpo seja brasa

teu corpo seja brasa
e o meu a casa
que se consome no fogo

um incêndio basta
pra consumar esse jogo
uma fogueira chega
pra eu brincar de novo


Alice Ruiz

sábado, 10 de setembro de 2011


O amor no éter

Há dentro de mim uma paisagem 
entre meio-dia e duas horas da tarde. 
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água, 
entram e não neste lugar de memória, 
uma lagoa rasa com caniço na margem. 
Habito nele, quando os desejos do corpo, 
a metafísica, exclamam: 
como és bonito! 
Quero escrever-te até encontrar 
onde segregas tanto sentimento. 
Pensas em mim, teu meio-riso secreto 
atravessa mar e montanha, 
me sobressalta em arrepios, 
o amor sobre o natural. 
O corpo é leve como a alma, 
os minerais voam como borboletas. 
Tudo deste lugar 
entre meio-dia e duas horas da tarde.

Adélia Prado

quinta-feira, 8 de setembro de 2011


Filtro

Meu Amor, não é nada: - Sons marinhos 
Numa concha vazia, choro errante... 
Ah, olhos que não choram! Pobrezinhos... 
Não há luz neste mundo que os levante! 

Eu andarei por ti os maus caminhos 
E as minhas mãos, abertas a diamante, 
Hão de crucificar-se nos espinhos 
Quando o meu peito for o teu mirante! 

Para que corpos vis te não desejem, 
Hei de dar-te o meu corpo, e a boca minha 
Pra que bocas impuras te não beijem! 

Como quem roça um lago que sonhou, 
Minhas cansadas asas de andorinha 
Hão-de prender-te todo num só vôo... 

Florbela Espanca

segunda-feira, 5 de setembro de 2011


Pela Luz dos Olhos Teus 

Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus só pra me provocar
Meu amor, juro por Deus me sinto incendiar
Meu amor, juro por Deus
Que a luz dos olhos meus já não pode esperar
Quero a luz dos olhos meus
Na luz dos olhos teus sem mais lará-lará
Pela luz dos olhos teus
Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar.

Vinicius de Moraes

sábado, 3 de setembro de 2011


Poema 3

Ah vastedad de pinos, rumor de olas quebrándose,
lento juego de luces, campana solitaria,
crepúsculo cayendo en tus ojos, muñeca,
caracola terrestre, en ti la tierra canta!
En ti los ríos cantan y mi alma en ellos huye
como tú lo desees y hacia donde tú quieras.
Márcame mi camino en tu arco de esperanza
y soltaré en delirio mi bandada de flechas.
En torno a mí estoy viendo tu cintura de niebla
y tu silencio acosa mis horas perseguidas,
y eres tú con tus brazos de piedra transparente
donde mis besos anclan y mi húmeda ansia anida.
Ah tu voz misteriosa que el amor tiñe y dobla
en el atardecer resonante y muriendo!
Así en horas profundas sobre los campos he visto
doblarse las espigas en la boca del viento.

Pablo Neruda