sábado, 30 de abril de 2011


Nascente

Quando sinto de noite 
o teu calor dormente 
e devagar 
para que não despertes 
digo: cedro azul, 
terra vegetal, 
ou só 
amor, amor; 
quando te acaricio 
e devagar 
para que não despertes 
tomo na mão direita 
as duas fontes, iguais, da vida, 
procuro a nascente 
e adormeço 
nela essa mão depositando. 

António Osório

domingo, 24 de abril de 2011


Tan sencillo este amor... 

Tan sencillo este amor,
tan luminoso,
y tú no aciertas nunca
a saber de verdad lo que me pasa.
Lo que me pasa, amor,
es que te quiero,
es que el aire se agrupa de corceles,
golondrinas de mar,
garzas azules.
Lo que te ocurre, amor,
es que eres tonto,
que mi amor se ha quedado flotando entre los brezos
y tú no aciertas nunca
a saber de verdad lo que me pasa.
Tú que lo sabes todo,
que todo lo adivinas y comprendes,
¡Qué tonto eres, amor!
¡Qué tonto eres!

Elsa López

sábado, 23 de abril de 2011


Gosto quando te calas

Gosto quando te calas porque estás como ausente,
e me ouves de longe, minha voz não te toca.
Parece que os olhos tivessem de ti voado
e parece que um beijo te fechara a boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
emerge das coisas, cheia da minha alma.
Borboleta de sonho, pareces com minha alma,
e te pareces com a palavra melancolia.

Gosto de ti quando calas e estás como distante.
E estás como que te queixando, borboleta em arrulho.
E me ouves de longe, e a minha voz não te alcança:
Deixa-me que me cale com o silêncio teu.

Deixa-me que te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada, simples como um anel.
És como a noite, calada e constelada.
Teu silêncio é de estrela, tão longinqüo e singelo.

Gosto de ti quando calas porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se tivesses morrido.
Uma palavra então, um sorriso bastam.
E eu estou alegre, alegre de que não seja verdade.

Pablo Neruda

sexta-feira, 22 de abril de 2011


Fantasia

Há uma mulher em toda a minha vida, 
Que não se chega bem a precisar. 
Uma mulher que eu trago em mim perdida, 
Sem a poder beijar. 

Há uma mulher na minha vida inquieta. 
Uma mulher? Há duas, muitas mais, 
Que não são vagos sonhos de poeta, 
Nem formas irreais. 

Mulheres que existem, corpos, realidade, 
Têm passado por mim, humanamente, 
Deixando, quando partem, a saudade 
Que deixa toda a gente. 

Mas coisa singular, essa que eu não beijei, 
É quem me ilude, é quem me prende e quer. 
Com ela sonho e sofro... Só não sei 
Quem é essa mulher. 

Alfredo Brochado

quinta-feira, 21 de abril de 2011


Eu Queria Ter o Tempo 
e o Sossego Suficientes

Eu queria ter o tempo 
e o sossego suficientes 
Para não pensar em coisa nenhuma, 
Para nem me sentir viver, 
Para só saber de mim 
nos olhos dos outros, reflectido. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

terça-feira, 19 de abril de 2011


Ilusão Perdida

Florida ilusão que em mim deixaste 
a lentidão duma inquietude 
vibrando em meu sentir tu juntaste 
todos os sonhos da minha juventude. 

Depois dum amargor tu afastaste-te, 
e a princípio não percebi. Tu partiras 
tal como chegaste uma tarde 
para alentar meu coração mergulhado 

na profundidade dum desencanto. 
Depois perfumaste-te com meu pranto, 
fiz-te doçura do meu coração, 

agora tens aridez de nó, 
um novo desencanto, árvore nua 
que amanhã se tornará germinação. 

Pablo Neruda

segunda-feira, 18 de abril de 2011


ELA

À beleza tão pura do semblante,
à luz sublime que há nos olhos dela,
- pergunto-me a mim mesmo a todo instante,
como tão simples pode ser tão bela...

Diferente das outras, diferente 
dos moldes tão comuns de uma mulher,
- ela me faz pensar num mundo ausente
deste que a gente sem querer já quer...

Bem que a quis esquecer - e noutro amor 
procurei me enganar, acreditando
ser do meu pobre coração, senhor...

Em vão tentei... Em vão... Vendo-a naquela
doce e pura expressão - fico pensando
que é impossível não pensar mais nela!...

J.G. de Araújo Jorge

domingo, 17 de abril de 2011


Passa uma Borboleta por Diante de Mim

Passa uma borboleta por diante de mim 
E pela primeira vez no Universo eu reparo 
Que as borboletas não têm cor nem movimento, 
Assim como as flores não têm perfume nem cor. 
A cor é que tem cor nas asas da borboleta, 
No movimento da borboleta o movimento é que se move, 
O perfume é que tem perfume no perfume da flor. 
A borboleta é apenas borboleta 
E a flor é apenas flor. 

Fernando Pessoa (Alberto Caeiro)

sábado, 16 de abril de 2011


Fanatismo

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Florbela Espanca

sexta-feira, 15 de abril de 2011


El Convite

Lo que hallaste en la mesa, justamente,
no fue sino el sabor de mi ternura;
un fruto sabio, un pan sin amargura,
y el agua de la vida allí presente.

Junté las manos y elevé la frente
para darte el amor, en la clausura
del corazón recóndito; en la albura
de la mesa ofrecida humanamente.

Toma de este manjar y que este vino
sea, en el dulce vaso diamantino,
la primera señal de nuestra alianza.

Yo soy la vida y tú el amor. Y el fruto
del encarnado amor, en el minuto
cuajó la eternidad de su esperanza.

GERMÁN PARDO GARCÍA

quarta-feira, 13 de abril de 2011


Sonho

Exporei o sonho
trarei à luz, a lama, o cascalho,
o diamante, - se houver.

Não mentirei, serei como sou,
meu sonho se abrirá como pétala pura
- se houver manchas, não serão do mundo

Pecaram no fruto, antes da semente,
por isso o sonho ressuscitará a vida anterior
talvez..

Exporei o sonho, o bem e o mal,
mas com pureza, - por isso os homens todos que sonham
entenderão a minha palavra.


Necessidade inevitável de ser.


J. G.de Araújo Jorge

segunda-feira, 11 de abril de 2011


El Alfarero

Todo tu cuerpo tiene
copa o dulzura destinada a mí.

Cuando subo la mano
encuentro en cada sitio una paloma
que me buscaba, como
si te hubieran, amor, hecho de arcilla
para mis propias manos de alfarero.

Tus rodillas, tus senos,
tu cintura
faltan en mí como en el hueco
de una tierra sedienta
de la que desprendieron
una forma,
y juntos
somos completos, como un solo río,
como una sola arena.

Pablo Neruda

domingo, 10 de abril de 2011


Me Llevas Hasta Donde Tu Piel

Me llevas hasta donde
tu piel se hace jardín en la sombra.
Tus párpados son suaves
como lo es la albahaca que crece sobre el pecho.

Van a parar a ti
las tardes que son luna impacientada,
los labios que en el pacharán se escancian
decididos a ahogarse
o a que tú les arrojes
el salvavidas de tu boca
sin el que he comenzado
la travesía
de reconocerte.

FERMÍN GÓMEZ

sábado, 9 de abril de 2011


En Medio De La Noche

En medio de la noche
te desvelas
y adivinas mi rostro dormido.
Apoyas tu boca sobre mi frente,
dejas, como al descuido,
tu mano sobre mi pecho,
hasta que nuestros latidos se acompasan.

En medio de la noche,
hostil y oscura,
me guardas,
estremeciéndote a cada
movimiento que hago,
hasta que, femenina y desvalida,
te quedas soñando
como un ángel cansado.

Por la mañana
tengo una alegría que me vive
todo el día, que me asiste
todo el día, sin saber
a qué se debe,
por qué nace.

José Batllo

sexta-feira, 8 de abril de 2011


 Acuérdate de Mí

¡Oh! cuánto tiempo silenciosa el alma
mira en redor su soledad que aumenta
como un péndulo inmovil: ya no cuenta
las horas que se van!
No siente los minutos cadenciosos
a golpe igual del corazón que adora
aspirando la magia embriagadora
de tu amoroso afán.

Ya no late, ni siente, ni aún respira
petrificada el alma allá en lo interno;
tu cifra en mármol con buril eterno
queda grabada en mí!
Ni hay queja al labio ni a los ojos llanto,
muerto para el amor y la ventura
esta en tu corazón mi sepultura
y el cadáver aquí!

En este corazón ya enmudecido
cual la ruina de un templo silencioso,
vacío, abandonado, pavoroso
sin luz y sin rumor;
Embalsamadas ondas de armonía
elevábanse a un tiempo en sus altares;
y vibraban melódicos cantares
los ecos de tu amor.

Parece ayer! ...De nuestros labios mudos
el suspiro de ¡"Adiós" volaba al cielo,
y escondías la faz en tu pañuelo
para mejor llorar!
Hoy... nos apartan los profundos senos
de dos inmensidades que has querido,
y es más triste y más hondo el de tu olvido
que el abismo del mar!

Pero, ¿qué es este mar? ¿qué es el espacio,
qué la distancia, ni los altos montes?
Ni qué son esos turbios horizontes
que mira desde aquí;
si al través del espacio de las cumbres,
de ese ancho mar y de ese firmamento,
vuela por el azul mi pensamiento
y vive junto a tí:

Si yo tus alas invisibles veo,
te llevo dentro del alma estás conmigo,
tu sombra soy y donde vas te sigo
por tus huellas en pos!
Y en vano intentan que mi nombre olvides;
nacieron, nuestras almas enlazadas,
y en el mismo crisol purificadas
por la mano de Dios.

Tú eres la misma aún;
cual otros días suspéndense tus brazos de mi cuello;
veo tu rostro apasionado y bello
mirarme y sonreír;
aspiro de tus labios el aliento
como el perfume de claveles rojos,
y brilla siempre en tus azules ojos
mi sol, ¡mi porvenir!

Mi recuerdo es más fuerte que tu olvido;
mi nombre está en la atmósfera, en la brisa,
y ocultas a través de tu sonrisa
lágrimas de dolor; pues mi recuerdo tu memoria asalta,
y a pesar tuyo por mi amor suspiras,
y hasta el ambiente mismo que respiras
te repite ¡mi amor!

¡Oh! cuando vea en la desierta playa,
con mi tristeza y mi dolor a solas,
el vaivén incesante de las olas,
me acordaré de tí;
Cuando veas que una ave solitaria
cruza el espacio en moribundo vuelo,
buscando un nido entre el mar y el cielo,
¡Acuérdate de mí!

Carlos Augusto Salaverry

quarta-feira, 6 de abril de 2011


Para Ti

Foi para ti 
que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo 

Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre 

Para ti dei voz 
às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 
e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 
simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 
e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos 
vivendo de um só 
amando de uma só vida 

Mia Couto

Dos Palabras

Esta noche al oído me has dicho dos palabras
Comunes. Dos palabras cansadas
De ser dichas. Palabras
Que de viejas son nuevas.

Dos palabras tan dulces que la luna que andaba
Filtrando entre las ramas
Se detuvo en mi boca. Tan dulces dos palabras
Que una hormiga pasea por mi cuello y no intento
Moverme para echarla.

Tan dulces dos palabras
?Que digo sin quererlo? ¡oh, qué bella, la vida!?
Tan dulces y tan mansas
Que aceites olorosos sobre el cuerpo derraman.

Tan dulces y tan bellas
Que nerviosos, mis dedos,
Se mueven hacia el cielo imitando tijeras.
Oh, mis dedos quisieran
Cortar estrellas.

Alfonsina Storni

segunda-feira, 4 de abril de 2011


Modo de amar

Amor como tremor de terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou ateando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.´


Astrid Cabral

sexta-feira, 1 de abril de 2011


Eu Simplesmente Amo-te


Eu amo-te sem saber como, 
ou quando, ou a partir de onde. 
Eu simplesmente amo-te, 
sem problemas ou orgulho: 
eu amo-te desta maneira 
porque não conheço qualquer outra forma 
de amar sem ser esta, 
onde não existe eu ou tu, 
tão intimamente 
que a tua mão sobre o meu peito 
é a minha mão, 
tão intimamente 
que quando adormeço 
os teus olhos fecham-se. 

Pablo Neruda