terça-feira, 30 de agosto de 2011



AZUL DE TI

Pensar en ti es azul, como ir vagando
por un bosque dorado al mediodía:
nacen jardines en el habla mía
y con mis nubes por tus sueños ando.

Nos une y nos separa un aire blando,
una distancia de melancolía;
yo alzo los brazos de mi poesía,
azul de ti, dolido y esperando.

Es como un horizonte de violines
o un tibio sufrimiento de jazmines
pensar en ti, de azul temperamento.

El mundo se me vuelve cristalino,
y te miro, entre lámparas de trino,
azul domingo de mi pensamiento.

Eduardo Carranza

quinta-feira, 25 de agosto de 2011


Venturosa de sonhar-te

Venturosa de sonhar-te, 
à minha sombra me deito. 
(Teu rosto, por toda parte, 
mas, amor, só no meu peito!)

–Barqueiro, que céu tão leve! 
Barqueiro, que mar parado! 
Barqueiro, que enigma breve, 
o sonho de ter amado!

Em barca de nuvem sigo: 
e o que vou pagando ao vento 
para levar-te comigo 
é suspiro e pensamento.

–Barqueiro, que doce instante! 
Barqueiro, que instante imenso, 
não do amado nem do amante: 
mas de amar o amor que penso!

Cecília Meireles

segunda-feira, 22 de agosto de 2011



Amor

Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir! 
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela! 
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!


Álvares de Azevedo

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, 
Esquece a tua alma. 
A alma é que estraga o amor. 
Só em Deus ela pode encontrar satisfação. 
Não noutra alma. 
Só em Deus - ou fora do mundo. 

As almas são incomunicáveis. 
Deixe o teu corpo entender-se com outro corpo, 
porque os corpos se entendem, mas as almas não.


Manuel Bandeira

quarta-feira, 17 de agosto de 2011


Vertentes

As palavras esperam o sono 
e a música do sangue sobre as pedras corre 
a primeira treva surge 
o primeiro não a primeira quebra 

A terra em teus braços é grande 
o teu centro desenvolve-se como um ouvido 
a noite cresce uma estrela vive 
uma respiração na sombra o calor das árvores 

Há um olhar que entra pelas paredes da terra 
sem lâmpadas cresce esta luz de sombra 
começo a entender o silêncio sem tempo 
a torre extática que se alarga 

A plenitude animal é o interior de uma boca 
um grande orvalho puro como um olhar 

Deslizo no teu dorso sou a mão do teu seio 
sou o teu lábio e a coxa da tua coxa 
sou nos teus dedos toda a redondez do meu corpo 
sou a sombra que conhece a luz que a submerge 

A luz que sobe entre 
as gargantas agrestes 
deste cair na treva 
abre as vertentes onde 
a água cai sem tempo 

António Ramos Rosa

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


Palidez

Fria palidez da amada minha.
Lânguida se retorce em meus lábios.
E nessa dança inefável de agonia.
Nossos corpos entrelaçados, juntos, o céu estremecia.

Fria palidez da amada minha.
Resvala em minha alma com maestria.
Distorce meu coração, enfraquecido,
E os mares infinitos clamam sua cantoria.

Fria palidez da amada minha.
Quero em teus lábios beber
O néctar dos anjos, e nessa dança
Que só nós sabemos, delirar de amor,
Morrer de alegria.

Rodrigo Mattos Lucas

sábado, 13 de agosto de 2011


Ouvir Estrelas 

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."


Olavo Bilac

quinta-feira, 11 de agosto de 2011


Sonhos

Sonhos. Afinal, o que é sonho?
Sonhar seria querer o impossível?
Sonho é querer? Que loucura!
Acho que sonho pode ser um...
Um, não; dois gritos da alma
E a alma grita? Que bobagem...
Imaginação, quero passagem
Preciso definir o que é sonho!
Se sonhar é lançar-se no espaço,
Sonho é mergulhar no infinito
Mergulhar no infinito? Que miragem...
Sonhar é a vontade de ver de novo
Não! Isso é definição de saudade
Está muito difícil, que crueldade!
Sonho seria o mesmo que devaneio?...
Se é, para que tanto rodeio!
Não sou poeta, para que tanta quimera!
Já sei, sonho é ter amizade sincera
É ter um grande amor nos braços
É esquecer todos os fracassos
É dar e receber beijos de ternura
É fazer do amor uma doce loucura
É nutrir sentimento bem definido
É sentir um amor não dividido
É sentir grande paixão no peito
É isso mesmo, falo do meu jeito
Nada de palavras da poesia cadente
É assim que eu sonho o meu sonho
Ah! sonho, você mata a gente!

Wenceslau da Cunha

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Poema X

Suave é a bela como se música e madeira,
ágata, telas, trigo, pêssegos transparentes,
foram erigidas as fugitivas estátuas.

Fazia a onda dirige-se sua contraria frescura.
O mar molha pés polidos e marcados
a forma recém trabalhada na areia
e é agora seu fogo feminino de rosa
num só borbulho que o sol e o mar combatem.

Ai, que nada te toque se não o sal do frio!

Que nem o amor destrói a primavera intacta.
Formosa, reverberante de indelével espuma,
deixa que teus quadris imponham na água
uma medida nova de cisne e de nenúfar

e navega tua estátua pelo cristal eterno.

Pablo Neruda

terça-feira, 9 de agosto de 2011


Cada Mañana 

Cada mañana el mismo
asombro, siempre nuevo:
el ver lo natural
que es para ti tu cuerpo.

Consabidas minucias
del rito del aseo,
que imperceptiblemente
elevas al misterio.

Desde mis ajimeces
vigilo tus linderos:
revuelas como un ángel
sobre tus mismos pechos.

Tu humedad se disputan
la juncia y el espliego.
¡Ay, frescura de aljibe
y calor de sesteo!.

En mis blandas murallas
aprisionado, veo
el hábito sencillo
que tienes de tu cuerpo.

Resuelves la materia
en puro movimiento;
cada escorzo insinúa
un ritmo en el espejo.

El repetido aire
que modela tus gestos,
es en ti cristalino
pero en mí es espeso.

De tu cuello desnudo
nace un hondo venero;
de tus brazos en alto,
la mimbre de tu pelo.

Al alba, cuando mido
tu distancia, no entiendo
la natural costumbre
que es para ti tu cuerpo.

RAFAEL GUILLÉN

quinta-feira, 4 de agosto de 2011


Soneto C

En medio de la tierra apartaré
las esmeraldas para divisarte
y tú estarás copiando las espigas
con una pluma de agua mensajera.
Qué mundo! Qué profundo perejil!
Qué nave navegando en la dulzura!
Y tú tal vez y yo tal vez topacio!
Ya no habrá división en las campanas.
Ya no habrá sino todo el aire libre,
las manzanas llevadas por el viento,
el suculento libro en la enramada,
y allí donde respiran los claveles
fundaremos un traje que resista
la eternidad de un beso victorioso.

Pablo Neruda

quarta-feira, 3 de agosto de 2011


A unos ojos

Tan cargada de vida está la verde
absenta de tus ojos cuando hablas,
que emborracha mirarte, y tanto frío
puede albergarse en ellos, que se hiela
mi pecho si me miras. Soy apenas
quien teme y quien desea. No me mires
si es tan sólo por juego o por despecho,
pues abrasa la llama que en mí prendes
con apenas volver a mí tus ojos.
Pero si sólo es juego o es despecho,
en esa luz de súbito relámpago
que enciende tantas veces tu mirada,
quiero quemarme así si así me miras,
pues no existe el ayer ni importa el luego.

Abelardo Linares

segunda-feira, 1 de agosto de 2011


Musa dos Olhos Verdes

Musa dos olhos verdes, musa alada, 
Ó divina esperança, 
Consolo do ancião no extremo alento, 
E sonho da criança; 

Tu que junto do berço o infante cinges 
C’os fúlgidos cabelos; 
Tu que transformas em dourados sonhos 
Sombrios pesadelos; 

Tu que fazes pulsar o seio às virgens; 
Tu que às mães carinhosas 
Enches o brando, tépido regaço 
Com delicadas rosas; 

Casta filha do céu, virgem formosa 
Do eterno devaneio, 
Sê minha amante, os beijos meus recebe, 
Acolhe-me em teu seio! 

Já cansada de encher lânguidas flores 
Com as lágrimas frias, 
A noite vê surgir do oriente a aurora 
Dourando as serranias. 

Asas batendo à luz que as trevas rompe, 
Piam noturnas aves, 
E a floresta interrompe alegremente 
Os seus silêncios graves. 

Dentro de mim, a noite escura e fria 
Melancólica chora; 
Rompe estas sombras que o meu ser povoam; 
Musa, sê tu a aurora! 

Machado de Assis