segunda-feira, 28 de novembro de 2011


Se Me Esqueceres

Quero que saibas 
uma coisa. 

Sabes como é: 
se olho 
a lua de cristal, o ramo vermelho 
do lento outono à minha janela, 
se toco 
junto do lume 
a impalpável cinza 
ou o enrugado corpo da lenha, 
tudo me leva para ti, 
como se tudo o que existe, 
aromas, luz, metais, 
fosse pequenos barcos que navegam 
até às tuas ilhas que me esperam. 

Mas agora, 
se pouco a pouco me deixas de amar 
deixarei de te amar pouco a pouco. 

Se de súbito 
me esqueceres 
não me procures, 
porque já te terei esquecido. 

Se julgas que é vasto e louco 
o vento de bandeiras 
que passa pela minha vida 
e te resolves 
a deixar-me na margem 
do coração em que tenho raízes, 
pensa 
que nesse dia, 
a essa hora 
levantarei os braços 
e as minhas raízes sairão 
em busca de outra terra. 

Porém 
se todos os dias, 
a toda a hora, 
te sentes destinada a mim 
com doçura implacável, 
se todos os dias uma flor 
uma flor te sobe aos lábios à minha procura, 
ai meu amor, ai minha amada, 
em mim todo esse fogo se repete, 
em mim nada se apaga nem se esquece, 
o meu amor alimenta-se do teu amor, 
e enquanto viveres estará nos teus braços 
sem sair dos meus. 

Pablo Neruda

3 comentários:

  1. oi Jacque, bem bonito esse texto.

    "o meu amor alimenta-se do teu amor"

    Faz sentido...histórias de amor não correspondido, deixam o coração apático, carente e anêmico.

    Amiga, ótima semana!! bjoss

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  2. Todo un gusto leer a Neruda,uno de los grandes,un placer visitarte un abrazo.J.R.

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  3. Jacque

    Que belo poema!... Adoro a poesia de Pablo Neruda. Além de belos poemas de intervenção, os mais sensuais como este, fazer ler e reler. Sou assim!
    Beijos amiga

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